A VINGANÇA DA MULHER TRAÍDA

• 04/Agosto/2022
• Comentários

     Os jovens que procuravam consulta médica no Barbalho tinham número diminuto, e quando tal acontecia, havia até uma estranheza.

     A última consulta do dia foi programada para Clarisse, jovem de vinte e cinco anos. Ela dizia que, há muito tempo não fazia uma consulta médica. Perguntei se padecia de alguma doença; ela me referiu que não. Seu propósito era tão somente fazer um check-up.

     Passei a ver a idade, o endereço, escolaridade, se trabalhava, sua localização etc.

     - Doutor, trabalho numa recepção de motel, há oito anos.

     Já que não tinha queixas, mantive a conversa de outra maneira:

     - Você deve ter visto ou participado de casos interessantes ou inusitados. Afinal de contas, o motel é um local de encontros furtivos com uma aura de clandestinidade, não é? – perguntei.

     - Sempre aparecem casos.

     Ela falava, enquanto eu media a sua TA.

     - Você se recorda de alguns casos? – eu já estava interessado na conversa.

     - Há tantos, mas não me recordo agora.

     - Pelo menos, um. Aquele que lhe chamou mais atenção! – insisti.

     - Ah sim. Um senhor entrou no motel com uma acompanhante quando, pouco depois, a Polícia chegou e cercou o motel. Foi uma confusão danada, revistaram os quartos e seus ocupantes à procura de um casal que havia roubado o carro de uma senhora. O casal foi levado para a delegacia junto com o carro.

     Na delegacia, ficou comprovado que o senhor, “o ladrão”, estava com o carro em nome da mulher. Não era seu carro, nem tinha permissão para guiar.

     Depois de inúmeras perguntas do delegado, ficou constatado que o carro estava em nome da sua ex-mulher.

     Eles se separaram. Mas a sua mulher não aceitou a separação. Ela começou a vigia-lo. Naquela tarde, descobriu que ele estava no motel e fez queixa à Polícia de que um ladrão havia roubado seu carro e havia entrado no motel. O que aconteceu foi isso que acabei de relatar. O final da estória, eu não sei como terminou – me disse.

     Prescrevi alguns exames de laboratório, após ter feito o exame físico. A minha cliente se foi, com a promessa de contar novos casos, quando retornasse para nova consulta.

      Fiquei a imaginar até onde chega a vingança de uma mulher ferida.

 Texto extraído do livro Estórias de Todo Dia, de autoria de  Fernando Machado Couto. Médico, Escritor

Contato para aquisição do livro: Thyana Tel.: 071.9 9120.9337  (Postagem ou motoboy)

Texto digitado por Luzanira Fernandes