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ANÁLISE DAS CRÍTICAS AOS TEXTOS ESPÍRITAS

O Espiritismo é uma doutrina de livre exame. Não existem oráculos ou autoridades que nos digam como interpretar a codificação espírita e os livros espíritas. Não existem médiuns ou personalidades espíritas por mais notáveis, que possam determinar a melhor ou a correta interpretação de um texto, afirmação ou conceito. Somos livres para, após ler e refletir, tirarmos as consequências filosóficas, religiosas ou científicas do que lemos.

 Se a interpretação é livre, se não existem especialistas em Espiritismo, como determinar qual a interpretação correta da codificação? Quem irá nos esclarecer sobre a veracidade de um romance ou afirmação de natureza espírita? Sendo livre a interpretação, o Espiritismo irá se tornar um conjunto de opiniões pessoais e ficará ao gosto da supremacia de instituições ou líderes carismáticos? Prevalecerá a opinião dominante, sem que isso diga nada a favor de sua veracidade?

Allan Kardec instituiu o Espiritismo através do controle universal do ensino dos espíritos superiores. Um conjunto de inúmeros espíritos esclarecidos sob o comando do Espírito de Verdade faziam afirmações racionais, em diferentes países por médiuns que não se conheciam. Se uma mesma afirmação é fornecida por espíritos superiores por vários médiuns, não há motivos para duvidarmos de tal afirmação. A verdade não pode ter pátria, geografia, cultura ou pertencer a indivíduos ou grupos. Este foi o critério usado na elaboração da codificação espirita, livre de todo personalismo e examinada com o crivo da mais fria razão e em concordância com a experiência oferecida pelo laboratório da mediunidade e fenomenologia espiritual.

Se Kardec encontrou a melhor metodologia e o mais confiável critério para a elaboração da teoria espirita, o que nos fornecerá a chave para a sua adequada interpretação? Uma vez elaborado o Espiritismo, o que nos garantirá a sua melhor compreensão? Em quem confiaremos? Kardec responde: a razão de cada um e a experiência de incontáveis grupos. Declara no início de O Livro Dos Espíritos: "fé inabalável, somente o é, aquela que encara a razão face a face em todas as épocas da humanidade" equivale dizer que devemos ter fé naquilo que entendemos racionalmente e que não entra em contradição com o avanço do conhecimento científico e filosófico tanto no passado, nos dias de hoje e nos dias futuros. É realmente o critério de máxima exigência e confiança que se pode ter em uma doutrina.

Muito se tem escrito e falado a favor e contra o Espiritismo. As críticas desfavoráveis que se originam fora do meio espirita, são naturais e esperadas e nada mais fazem que divulgar o que julgam combater. As pessoas presas à sistemas e preconceitos continuarão a ser contrários às idéias espíritas, mas as que estão isentas de preconceitos e desejosas de conhecer a verdade ao estudarem de perto o espiritismo o aceitarão, porque nada é mais convincente que a verdade. O real problema surge quando as críticas contrárias partem do próprio movimento espirita, os espíritas combatendo outros espíritas ou sendo contrários à textos clássicos da literatura espírita e da própria codificação.

 Como poderemos separar as críticas pertinentes das destituídas de sentido? Se parte do movimento espirita é favorável à determinada prática, enquanto outra parte é contrária. Se grupos espíritas são favoráveis à determinada produção mediúnica e outros grupos são frontalmente contrários, como sabermos onde se encontra o lado certo? Creio que o primeiro passo é reler a codificação espírita, pois, o ensino dos espíritos superiores é, seguramente, mais confiável que o de uma pessoa isolada ou mesmo instituições.

O segundo critério é avaliar as justificativas dos críticos aos postulados ou práticas espíritas. Suas colocações destinam-se a discutir ideias ou pessoas? No primeiro caso podemos nos dispor a refletir sobre elas, mas no segundo devemos descarta tais críticas, pois, o Espiritismo e o verdadeiro espirita não discutem pessoas e sim ideias e práticas dentro do movimento espirita. Quem faz a crítica elabora argumentos racionais ou especulativos apenas? Apela para o argumento da autoridade somente para nos impressionar?  Descreve textualmente o parágrafo ou frase que julga estarem erradas ou, simplesmente, faz afirmações genéricas?

 Li hoje críticas desfavoráveis à Léon Denis, considerado o continuador de Kardec no plano filosófico. Autor respeitado e, seguramente, um dos clássicos do Espiritismo. As críticas foram vagas e pessoais, a própria figura do autor é desprezada ou relativizada em sua importância e tido como uma pessoa que se afastou da codificação espírita. Seu próprio estilo literário é questionado. A maior fraqueza desta crítica é não especificar onde Léon Dênis se afastou da codificação. Todas as afirmações foram categóricas sem jamais se estabelecerem em um argumento racional.

Por que iríamos abandonar um espirita consagrado como continuador de Kardec, uma obra de raríssima beleza lírica e profundidade filosófica para nos aventurarmos a crer em colocações não racionais, repletas de adjetivos e genéricas? Como não desconfiar da competência intelectual do autor do texto que tece suas críticas sem embasamento ? Deveremos acreditar pelo simples prazer de acreditar? Uma crítica bem fundamentada não pode ser um simples falar mal ou um desabafo anti-intelectual, raivoso e melodramático. Se alguém deseja ser levado a sério, deve ao menos despertar em quem lê ou ouve o beneplácito da dúvida. Palavras bonitas e abundância de adjetivos já não impressionam tanto.

João Senna

Médico, escritor, palestrante, falecido em 2020

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