Mediunidade e compromisso
É muito frequente no meio espírita a convicção
de que os bons espíritos dificilmente se comunicam com um médium. É uma espécie
de ranking onde os espíritos são classificado em fácil acesso, moderado acesso,
difícil acesso e acesso impossível. Tal convicção parte do princípio de que o
médium que recebe a comunicação deve ser quase tão evoluído quanto o espírito
comunicante.
Aprendemos que a sintonia vibratória que nos caracteriza torna difícil a
um espírito evoluído comunicar-se conosco. É uma colocação um tanto
questionável na sua aplicação, porque faz que julguemos os aspectos
Morais do médium e determinemos o que é possível aos espíritos realizarem
quando tal avaliação deveria partir do espírito que se comunica e não dos
encarnados.
Se o esprito de Bezerra de Menezes comunica-se com um médium pouco conhecido, o
coitado é logo classificado como obsidiado ou vítima de mistificação. Tal
precaução fecha as portas para as possibilidades mediúnicas de muitos médiuns
abnegados e que poderiam exercer um trabalho muito melhor se não fosse a
desconfiança do grupo espírita que o "acolheu"
Existe um endeusamento absurdo dos espíritas em relação a espíritos conhecidos.
Os católicos tem os seus santos e os espíritas tem seus espíritos inacessíveis.
Claro que um espírito como Bezerra de Menezes somente se ligará a médiuns que
apresentem um bom histórico espiritual, que se empenhem na ação do bem, mas o
médium não precisa ter alcançado a condição de espírito angélico para receber a
comunicação de espíritos bondosos. Não é porque um médium recebe a comunicação
de um espírito venerando, que este médium é também um espírito venerável. Basta
ser honesto, humilde e trabalhar na caridade de forma regular.
Claro que existem espíritos que atingiram um tão elevado nível de
evolução, que seus fluidos dificilmente interagem com os do
médium, mas são excessões e não a regra. É realmente difícil receber
comunicação de um espírito como Santa Tereza ou Santa Clara, mas não é
impossível. Poderá ocorrer que a urgência de uma problema exija que se rompam
barreiras vibratórias.
A verdade é que a maior dificuldade em se comunicar com espíritos de elevada
hierarquia se dá muito mais em virtude de nossos interesses e não por uma
questão de sintonia vibratória. Por que um espírito como Bezerra de Menezes ou
Santo Agostinho iriam se comunicar regularmente com um médium que não possui um
trabalho espiritual de relevância? Se não trabalha com cura espiritual que
envolvam dezenas de atendidos diariamente ou que não participe ativamente da
administração de uma grande instituição? Conheço uma pessoa simples que
dirige um abrigo para 90 idosos e uma creche para 80 crianças e que recebe
algumas comunicações de Bezerra todos os anos. A comunicação decorre muito mais
de necessidade do trabalho realizado e tem menos relação com a
evolução espiritual do médium. O médium é uma pessoa caridosa e humilde, mas
não parece figurar na galeria dos Santos como ele mesmo declara. Endeusar
o médium para que possa realizar o trabalho da caridade através dos bons
espíritos não é uma atitude que contribua para o bem. Como dizia um professor
que tive: nem tão rápido que pareça medo e nem tão devagar que pareça
provocação. Deixemos os médiuns e os espíritos trabalharem em paz.
João Senna: Médico, escritor, palestrante
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