Que é um médium?
Em O Livro dos Médiuns lemos que "todo
aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse
fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem, não constitui, portanto, um
privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam
alguns rudimentos. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em que a
faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos
patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou
menos sensitiva"
Observemos que a definição da mediunidade é dada
por sua função e não por seu mecanismo. Vários são os tipos de mediunidade,
porque cada organismo é apto a sentir os espíritos de forma diferente. Alguns
são capazes de sentir a influência dos espíritos através da visão, são os
médiuns videntes, outros sentem através da escrita, são os médiuns psicógrafos,
outros os ouvem, são os médiuns audientes. Acreditamos que as diferentes
modalidades mediúnicas atendam às necessidades específicas do reencarnado, não
sendo meros caprichos da natureza.
Existem aqueles que percebem a presença
dos espíritos quando em um estado mais amplo da emancipação da alma, são os
médiuns sonâmbulos. O sonâmbulo encontra-se em um estado alterado da
consciência e sente a presença dos espíritos no mundo espiritual e também
espíritos de encarnados em outros locais. Podem trazer informações de
encarnados ou desencarnados. Muitos podem pensar que o sonâmbulo não é médium
porque ele mesmo percebe os espíritos. É apenas uma certa confusão entre a
faculdade mediúnica e o seu mecanismo. Se assim fosse, os médiuns videntes e
audientes também não seriam médiuns porque também, por si mesmos, percebem os
espíritos.
O médium vidente vê os espíritos no ambiente sem
mesmo ser influenciado pelos espíritos, ele pode apenas descrevê-los
usando sua própria faculdade de ver os espíritos, nem por isso é menos médium
que aquele que exerce a psicofonia. O mesmo se pode dizer do médium audiente.
Embora o sonambulismo, a vidência e a audiência não necessitem que o espírito
influencie o médium diretamente como na pintura mediúnica, na psicofonia ou na
psicografia, nem por isso, deixam de ser faculdades mediúnicas.
Ser médium é sentir a presença dos espíritos,
sem a necessidade de ser influenciado ou guiado pelos espíritos. Médium não é
somente aquele que "incorpora" ou escreve ou faz pinturas
mediúnicas. A responsabilidade do médium sonambúlico ou vidente é a mesma do
médium psicógrafo ou da mediunidade psicofônica. O que diferencia os diversos
tipos de mediunidade é a modalidade da comunicação e isso é irrelevante
para se definir alguém como médium. Não importa como você é médium, mas o que
você faz da sua mediunidade. Kardec define a mediunidade pelo seu aspecto
funcional, não pelo seu mecanismo. E assim o faz por ser mais lógico.
Que importância tem se você vê os espíritos
através da emancipação da sua alma como no sonambulismo, se os vê utilizando
sua capacidade de ver os espíritos como na vidência ou se os percebe quando
influenciado pelos espíritos como na psicografia ou psicofônia? Podemos
arriscar dizer que 99% dos médiuns do planeta nem sabem que são médiuns, muitos
nem acreditam em espíritos.
Se o sonambulismo ou a vidência não fossem
faculdades mediúnicas, o espirita poderia cobrar em dinheiro ao nos
fornecer informações do mundo espiritual ou dos espíritos presentes como na
vidência. Tais faculdades estariam apenas catalogadas nas aquisições pessoais
da pessoa que a possui, como é a faculdade de pintar, receitar remédios ou
cantar. Tanto o pintor, o médico e o músico podem cobrar por suas
atividades.
No plano espiritual são realizados modificações
no perispírito para que, ao renascer, o indivíduo tenha a faculdade sonambúlica
ou psicográfica e qualquer outra modalidade de mediunidade mais pronunciada ou
importante para o seu processo evolutivo. Não quer dizer que todo médium tenha
passado por tais modificações, mas aqueles em que a mediunidade é mais intensa,
certamente, tem um compromisso objetivo com o exercício Mediúnico. Nas obras de
Andre Luís tal fato está muito bem relatado, por isso, a mediunidade é um dom,
uma graça, não é uma conquista que exigiu esforço, embora, exija disciplina e
renuncia quanto se quer exercê-la para os altos propósitos a que foi destinada.
Pode-se aceitar outras definições da mediunidade
e colocar o sonambulismo, a vidência e a audiência como não sendo modalidades
mediúnicas por não necessitarem da atuação direta dos espíritos sobre a
individualidade daqueles que possuem tais faculdades. Não haveria
problema se a responsabilidade não fosse diminuída ou se a faculdade não fosse
relativizada. Preferimos, entretanto, seguir a definição que a doutrina
espírita nos oferece por nos parecer mais abrangente, lógica e, acima de tudo,
coerente com a prática mediúnica.
João Senna – Médico, escritor, palestrante
Escrito em Salvador, 17/05/2016
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